terça-feira, fevereiro 15

Os olhos acusadores


Havia um vilarejo, no interior de Minas Gerais, onde moravam seu João e outras pessoas que não saíam dali para nada.

Sendo pequeno o lugar, os moradores sabiam de tudo o que se passava na vida alheia. Certo dia, seu João precisou ir à cidade grande. Lá chegando, na vitrine de uma loja avistou um espelho. Seu João ficou pasmo e com o espelho na mão gritou:

– Mas o que o retrato do meu pai está fazendo aqui?

– Isso é um espelho – explicou o dono da loja.


– O senhor conheceu o meu pai? Sorrindo, o lojista explicou:

– Isso é um espelho.

– Não é! É o retrato de meu pai! Olha o rosto, a testa, o cabelo. E aquele sorriso desajeitado!
Seu João quis saber o preço e o comerciante vendeu-lhe baratinho. Naquele dia, seu João exibia um sorriso de imensa alegria. Ao chegar em um vilarejo, todos queriam saber.

– Deve ser um presente!

– Não é só uma caixa!

Chegando em casa e entrando com cuidado, colocou o espelho dentro de uma gaveta no seu quarto, e sua esposa ficou a observar curiosa.

No dia seguinte, ao sair para trabalhar, sua mulher correu para o quarto, abriu a gaveta e, afastando-se, fez o sinal da cruz. Fechou a gaveta e exclamou:

– Ah, Meu Deus, é o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim. A outra é linda, que pele... Ela é mil vezes mais bonita do que eu.

Quando seu João voltou do trabalho, achou a casa toda desarrumada e a sua mulher chorando no chão.

Ele indagou:

– O que foi isso, mulher? E ela lhe respondeu:

– Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca naquele retrato?

– Que retrato? – perguntou.

– Aquele mesmo que você escondeu na gaveta!

Mesmo sem entender ele respondeu:

– Aquele é o retrato de meu pai.

Indignada, disse:

– Cachorro, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jararaca feia?

– Velho lazarento coisa nenhuma! – gritou o homem ofendido.

Outras pessoas, escutando a gritaria, entraram para saber do que se tratava, encontraram a vizinha chorando e uma pessoa disse:

– Nunca gostei deste homem! Isso mesmo, larga dele.

– Aquele cafajeste arrumou outra! Ontem eu encontrei ele escondendo um pacote na gaveta e era o retrato de outra mulher.

Uma velhinha muito ansiosa foi ver a tal mulher, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos, soltou uma gargalhada e disse:

– Essa mulher parece sua bisavó! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, arruinada, torta que eu já vi até hoje.

E completou feliz, abraçando a vizinha:

– Fica tranquila, a bruxa lá do retrato já está com os dois pés na cova!

Moral da história: tome cuidado antes de tirar conclusões precipitadas.